Foi publicada uma revisão de "Os Devoristas" de Vasco Pulido Valente. Chama-se agora a "Revolução :Liberal (1834-1836) ". Aqui a tese essencial é que os Liberais que fizeram a revolução nunca conseguiram liberalizar o país, apenas liberalizar a acção do Estado. Em essência, um estado baseado em engenharia social, da educação à redistribuição da propriedade. O "Portugal novo" resume-se em à tentativa de justiça social por parte dos Liberais, contra o estatuto e o feudo acumulado pela "antiga organização social". Modos de organizar e ver a sociedade em concorrência: a novidade contra a resistência. Na verdade o país andou sempre ao contrário, aumentou as funções básicas de "Preservar e proteger" para a engenharia social, que acabaria por formatar comportamentos por instigar á resistência popular. A tarefa vanguardista do Estado nunca conseguiu sair do gabinete. Porque nunca permitiu que a sociedade se emancipasse sem "apoio" ou "subsídio" do estado. E a tendência não é para melhorar.
O estado dificilmente permite aos que podem viver por si que assim o façam. O estado parece querer centralizar todo o comportamento: na cultura isso é tão visível que a própria cultura se tornou desinteressante. Até os padres já querem protecção. Do estado.
No entanto há uma pergunta que se criou:
De onde provém esta separação entre "novo" e "velho" Onde começou e o que está subjacente a essa distinção? Do mero comportamento geracional? Não me parece.
Está, assim o vejo, pura e simplesmente na consciência que os portugueses têm acerca de si mesmos. O de "pensarem" estarem separados uns dos outros. Por classes, por posições, por regiões, ideologias, por posições no mercado, por rankings de campeonatos entre cidades, universidades, clubes. Esse é o seu verdadeiro provincianismo. Digo eu. E se o estão entre si, também estão separados de Espanha, da Europa, de Africa, do resto do mundo. De tudo o que existe. O que venha a existir. O que for possível.
Na base disso, e sociologicamente, está a constante institucionalização dos comportamentos: da espiritualidade cantonada a décadas de uma igreja e teologia única (que teima em voltar), de comportamentos cantonados a manuais de psiquiatria e de uma mórbida adulação à medicina, ou à pragmatização da ciência. A institucionalização não é mais do que sedimentação do comportamento normal e doentio.
Portugal sem, ainda, uma consciência social firme de liberdade, de saber quem é, resguarda-se no meio do que é mais visível, ou do que tem medo: nas instituições normalizadoras. Nas convenções, nos "valores" (que estão sempre a mudar), na moral. No hábito e no costume. É confortável, mas não é vida. É outra coisa qualquer a que alguém chamará "velho" ou "novo" dependendo do grau de confusão que intenta causar. Para reinar.
Na verdade a confusão é gerada para reinar, para restabelecer, para reagir. Mas não para criar - verdadeira essência da vida.. A bem ver, não há assim tanta confusão, basta pensar outra vez.
O Portugal novo nunca será novo se não estiver em paz com o passado, o velho, o antigo. Se não fizer a pergunta: "para que serviu o passado?». Se não o honrar e recordar. (para que acontecimentos não voltem a acontecer). Não há novo sem história.
Basta olhar para o panorama imobiliário das nossas zonas metropolitanas em que o radicalismo (velho) do tanto querer ser novo, tornou velho o mais novo. E fez com que o novo deixasse de ser novidade. Não admira esta época saudosista.
Há uma ideologia velha de adulação ao novo. Em simultâneo com uma ideologia nova de adulação ao velho. A mesma moeda. Porquê? Medo de morrer, de envelhecer, ou seja tudo aquilo que faz os portugueses velhos. Medo.
Nada está separado de nada, não há uma linha ou fronteira que divida uma coisa da outra, o velho do novo. Essa linha é uma ilusão a que se chama "convenção", "valores" ou "moral". Abstracções tão duradouras como uma peça de fruta que se come ou apodrece.
Quanto ao livro do Vasco Pulido Valente, hei-de o ler.
P.S. Eu escrevi isto?
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