terça-feira, 29 de abril de 2008

Cozinhar

Há uma história que eu não esqueço acerca de como um cozinheiro que aprendeu a cozinhar. Não digo o nome. Mas a história é esta:
Um dia A. (o cozinheiro) olhou para o frigorifico e viu que faltava tudo para uma refeição. A sua condição social não era a melhor, estava desempregado e não havia qualquer futuro. Por isso decidiu, radicalmente, mudar de cidade. Isto passou-se nos Estados Unidos.E assim fez, pegou nas suas bagagens, no dinheiro que tinha e foi para um terminal de camionagem. Ali comprou um bilhete - com o dinheiro que lhe restava - para uma das cidades bem sucedidas dos EUA. Assim que adquiriu o bilhete foi para a sala de espera. E ali ficou. Ao fim de um tempo começou a reparar, na sala de espera, num casal de jovens que se encostavam um ao outro, talvez por frio. Um daqueles casais como nós, quando eramos jovens.E ganhando coragem, foi ter com os jovens e perguntou-lhes o que lhes faltava.- Comida, disseram os jovens. Temos fome. Retorquiu o rapaz.A. não sabendo bem o que fazer e com uma certa compaixão, perguntou-lhes para onde iam. E verificando que o seu destino na camionagem ainda era daí a um tempo e lembrando-se da sua antiga casa, resolveu convidá-los para sua antiga casa, para uma refeição. Afinal...Aí, decidiu fazer uma refeição com a receita de "tudo o que há no frigorífico". E não havia muito. Resolveu fazer um "refogado de tudo o que há".E assim que a terminou e a apresentou aos seus convidados não só se desgostou com refeição como com o prazer que os seus convidados disfrutavam da refeição. A. perguntou a si mesmo acerca do prazer dessa refeição:- De onde veio tudo isto? Afinal onde estavam estes condimentos tão escondidos que eu já não queria aceitar? Foi uma das melhores refeições que já comi. Uma das melhoes receitas que já encontrei: "refogado de tudo o que há".
Os alimentos estavam ali, no frigorifico, que uma imposição cultural não valida.Hoje há listas de restaurantes. Dos melhores e dos piores. Mas não é comida que falta. Falta é a vida que se põe na comida.Por isso alguns dos "melhores" restaurantes são artificiais e zombies. Não valem um segundo da expectativa que pomos neles.Porque eu quando vou a um restaurante quero uma obra de arte, por 3 euros. E garanto-vos sei onde se o faz. Não quero sushi sem alma nem vida. Não quero ostras, sem alma nem vida. Não quero bife sem alma nem vida.Garanto-vos que sei onde se come por 3 euros com alma e com vida. Bife, ostras, marisco. E não raro, deixo uma gorjeta no dobro.Estou a mentir?Vocês estão. Na vossa vida medíocre.Eu não minto. Não preciso.

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